quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Educação, autonomia e sensibilidade. 
  
Introdução: 
  
mundo em que vivemos está construído sobre as bases do pensamento moderno. Guiado pela crença em um ideal de sociedade igualitária e livre. Herdando do projeto moderno e suas bases iluministas um grande avanço tecnológico e desenvolvimento da racionalidade, porém, com esses avanços e na busca de um ideal de sociedade, as questões ligadas a subjetividade e as relações humanas, afetos sensibilidade muitas vezes foram deixadas à margem das discussõesliberdade, a igualdade e a fraternidade que foram bandeiras na revolução francesas não são valores que podem ser alcançados enquanto valores idealizados, mas como processos subjetivos em constante construção. 
A partir dos ideais iluministas passou-se a buscar na sociedade maneiras de gerar acessibilidade e igualdade entre as pessoas. A escola e a alfabetização tiveram papel fundamental neste processo que possibilitou avanço tecnológico da sociedade. Hoje, através de celulares e computadores, podemos nos comunicar com todos os cantos do planeta sem sair de casa. E as promessas são de que o desenvolvimento tecnológico e as mudanças aconteçam cada vez mais rápido
A velocidade de transporte e comunicação que temos hoje com a internet e outros meios deu nova configuração ao nosso mundo, as relações afetivas e a economia. Os modelos de trabalho e educação não conseguem nos dar as garantias prometidas pelo projeto moderno. Vivemos o conflito de uma escola e um mercado que não conseguem se comunicar de forma satisfatória com outras partes da nossa vida. Não atendem nossas ambições e desejos. Como resultado disso temos, por exemplo: crianças desinteressadas na escola, sendo diagnosticadas com déficits de atenção e hiperativas e trabalhadores desestimulados com empregos que não correspondem assuas visões de mundo ou ambições. 
As escolas, no Brasil e no mundo, têm formado trabalhadores de baixo nível intelectual, voltados para a reprodução de trabalhos mecânicos (mesmo os processos de pensamento são feitos de forma mecânica). Não exercemos em nossa vida escolar e profissional atividades que estimulem as relações pessoais (na verdade, somos treinados para separar nossa vida pessoal da vida profissional e educacional). O pensamento crítico, a argumentação e troca de experiências são desestimulados no ambiente escolar, consequentemente isso se reflete na economia e nas relações interpessoais. 
Acredito que nesse aspecto é que se encontra a importância deste trabalho: repensar o papel da escola na sociedade e como podemos esta pode comunicar-se com a nossa de vida de forma mais completa. Proponho pensar aqui, não só numa escola que produz mão-de-obra para mercados específicos, mas que que contribua no desenvolvimento de seres humanos mais felizes, com capacidade crítica, que mantêm relações afetivas saudáveis. 
Este trabalho não visa criar um modelo de ensino, tendo em vista que em que priorizo a compreensão das distintas necessidades de grupos e indivíduos e que sendo assim, não podem ser tratadas através de um modelo ideal de educação, mas busco abranger possibilidades  pedagógicas que sirvam como exemplo para pensar novas práticas subjetivas.


1. ESCOLA COMO PRISÃO DO PENSAMENTO: 

Neste capítulo pretendo desenvolver questões sobre a estrutura física da escola e modelos pedagógicos. Como esses modelos podem potencializar ou desestimular processos de autonomia durante o aprendizado.
As questões aqui abordadas passam pela a grade escolar, salas, divisão de turmas e até a participação dos educandos no processo pedagógico.   


"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar meios para sua própria produção e construção", Paulo Freire. 


1.1 A escola; (estrutura e funcionamento)

modelo de escola que conhecemos atualmente foi concebido no final do século XVIII na Prússia. Este modelo foi pensado durante o Iluminismo e era aplicado nas fábricas assim como nas escolas. Este modelo industrial visa potencializar a capacidade de reprodução e repetição de tarefas simples, assim como criar hierarquias e disciplina. É possível justificar a aplicação deste modelo pela diferença de como os conteúdos eram concebidos nessa época, pois eram necessárias pessoas que soubessem ler e conseguissem memorizar conteúdos, já que as informações eram passadas através de livros ou oralmente. Atualmente, com os meios digitais, a informação pode ser armazenada de forma bem mais acessível e sem muitas perdas de conteúdo através de vídeos, arquivos de texto e outros. Estes conteúdos podem ser acessados também em qualquer lugar através de computadores, celulares, pen drives e outros. Desta forma, mesmo um aluno do primeiro ano escolar consegue acessar qualquer tipo de informação, desde uma simples receita de bolo, notícias de qualquer país e até resoluções de questões matemáticas, de química, física ou outro conteúdo escolar.
Podemos notar a partir daqui uma diferença primordial no papel da escola e do educador no processo de aprendizagem. Uma mudança que traz inúmeras possibilidades. Onde o professor não precisa mais ser o detentor de todo conhecimento e pode se tornar um potencializador de desejos e capacidades. Assim como já foi defendido por Paulo Freire em seu livro "Pedagogia da autonomia": "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar meios para sua própria produção e construção" O papel do educando se torna diferente a partir dessas possibilidades, num exercício do conhecimento muito mais experimental onde, através de seus impulsos e vontades, pode desenvolver trabalhos e conteúdos que se comuniquem com suas vocações, habilidades e desejos agregados ao espaço coletivo da escola, sem a obrigação de ter que decorar determinados conteúdos específicos e que muitas vezes acabam sendo esquecidos com o fim do período escolar.
Outros questionamentos podem ser feitos a partir dessas mudanças, como o papel da prova ou por quê da proibição de que os educandos "colem" durante as provas ou exercícios escolares. No dia-a-dia poderíamos enxergar a "cola" como algo positivo, poderia ser chamado de "trabalho em equipe" (e por que não?). É bom para o desenvolvimento do senso de coletividade que as pessoas possam se ajudar, trocar informações e chegarem a resoluções de problemas juntas, mas na escola esse tipo de colaboração não é permitida. Este fato está ligado também ao fato de que quando este modelo foi elaborado as pessoas precisavam decorar informações complexas, já que estas informações não poderiam ser acessadas com tanta facilidade, além da necessidade capitalista de estimular a competição entre os trabalhadores como forma de ampliar a produção e foi desta forma que a escola se tornou um meio para gerar mão de obra e abastecer o mercado de trabalho.
Existem outros aspectos em que as escolas se assemelham as fábricas; os sinais que marcam o término e início de cada aula, as turmas são organizadas em fileiras de forma que o indivíduo fique focado em sua mesa e em seus exercícios, a conversa dentro da sala de aula e até as idas ao banheiro são controladas pelo professorOs estudantes são obrigados a frequentar esses espaços diariamente cerca de 5 horas por dia, com intervalo de 30 minutos no meio do período para comerem e gastarem toda a energia contida durante as aulas nas quais elas não puderam se movimentar, levantar ou conversar livremente. Esse tipo de configuração do ambiente escolar proporciona um espaço de convívio intenso, onde são construídos valores, relações afetivas e de poder e uma série de noções que vão transformar a vivência daquele indivíduo.   



1.2 Desescolarização 

Há uma fragilidade inerente ao modelo pedagógico atual relativa à crença idealizada da resposta certa.  No processo de escolarização aprende-se que para cada pergunta existe uma única resposta, sendo necessário, como aprendizado, decorá-la para ser aprovado. É desta forma que muitos professores e diretores de escola acreditam estar preparando as crianças para a vida. A vida, porém, é repleta de possibilidades, onde só pela experimentação consciente delas é possível explorar as potencialidades dos indivíduos. A criatividade no modo de lidar com situações inusitadas, adaptando-se aos mais variados ambientes: de trabalho, de relações sociais ou de lazer. 
Descarta-se ao modelo pedagógico, aos alunos e ao mercado de trabalho uma infinidade de possibilidades que estão situadas em áreas onde não se tem ainda garantias. Estimular a autonomia se apresenta como um problema para o mundo moderno exatamente por lidar com a complexidade e subjetividade dos seres humanos, uma vez que a autonomia encontra-se justamente na zona de risco, onde não há garantias ou previsibilidades determinadas. Os conteúdos científicos e exatos são importantes para o desenvolvimento pessoal, mas são insuficientes se aplicados isoladamente. A educação deve privilegiar igualmente as artes, a humanidade e educação física, buscando também aborda-las de forma integrada.
A desescolarização surge na década de 70 com a proposta de que a escola não é o único meio para a aprendizagem. Trazendo para seu método as mais diversas oportunidade de aprendizado. Compreendendo que toda experiência é transformadora e pode servir para o enriquecimento humano. Desescolarizar-se, nesse sentido, é, também, enxergar as relações de forma plural. Onde cada indivíduo é detentor de bagagem intelectual e emocional própria e a partir da relação com outros é que este conteúdo se transforma para novas possibilidades.



1.2 Fragmentação e envolvimento; 

A estruturação da racionalidade moderna gerou um modelo de vida fragmentado, separando os diferentes aspectos ou áreas da vida de um indivíduo. Delega-se à escola a responsabilidade de gerar mão de obra para os diversos mercados econômicos específicos. Deixando de lado muitas vezes as questões emocionais e sociais dos educandos, sem permitir que os indivíduos, em especial, as crianças possam se expressar e desenvolver no ambiente escolar de forma saudável emocional socialmente. Assim, o cuidado para que não sejam prejudicadas, exige tornar o ambiente escolar menos hostil, um espaço com uma competitividade mais saudável, menos propícia ao bullying, por exemplo, que muitas vezes é causado pela insegurança e falta de envolvimento dos estudantes uns com os outros. É interessante pontuar que na escola são reproduzidos as mesmas relações de poder e competitividade definidos pelo modelo socioeconômico capitalista, mesmo sem um discurso que os incentive, uma vez que a própria estrutura da escola traduz essas relações. 
Tratar a educação de forma integrada exige aulas capazes de estimular as habilidades criativas, sensíveis e cognitivas das crianças; o reconhecimento da necessidade de gerar curiosidade a respeito dos conteúdos. Permitir uma construção de conteúdo de forma coletiva, de modo a gerar o desenvolvimento de novos processos autônomos. 


 1.3 O conhecimento está em toda parte; 

Gostaria de encerrar este capítulo com esta proposição: o conhecimento está em toda parte. Um conceituo bem simples e que desencadeou boa parte do conteúdo abordado neste trabalho. Um conceito que nos abre possibilidades para a educação que não estejam ligadas necessariamente as formas instituídas, mas a todo tipo de experiência que nos possa nos trazer novas informações e nos fazer refletir. 
Paulo Freire em seu livro "A importância do ato de ler" fala, não só do processo de alfabetização, mas, principalmente, da leitura do mundo. Posto que "a leitura de mundo precede a leitura da palavra" e que o ato de ler se coloca aqui como uma forma de interpretação do próprio mundo. Estamos exposto a informação o tempo todo e o aprendizado se dá a partir da leitura fazemos não só de forma contemplativa, mas de forma ativa. 
Se vemos um filme, conversamos com as pessoas, trocamos experiências ou mesmo nos colocamos a observar a cidade ou a natureza, somos capazes de fazer interpretações, análises e gerar leituras desses acontecimentos, basta estarmos aptos a absorver essas informações. Porém, é na medida em que colocamos em prática nosso aprendizado que nos especializamos em algo e nos tornamos aptos a desenvolver atividades específicas. Assim como um nadador só aprende a nadar nadando e um professor só aprende a dar aulas enquanto exerce sua função como professor, a teoria se completa através do exercício prático. 
Em "Pedagogia da autonomia" Paulo Freire nos convida a pensar no ato de aprender como algo inerente ao ser humano e que aprender precede o ato de ensinar, visto que, antes de ensinarmos, tivemos que aprender a ensinar e antes disso tivemos ainda que aprender um conteúdo específico que antes não era conhecido. Ou seja, é possível aprender sem um professor, porém é impossível ensinar sem que haja alguém para aprender, pois o ato de ensinar só se completa quando existe alguém que aprende. 
Mesmo alguém que nunca tenha ido a escola ou lido um autor específico carrega consigo conhecimentos obtidos de outras formas. Os agricultores e os artesãos, por exemplo, muito comumente adquirem seus conhecimentos a partir da troca de experiência direta com outros agricultores ou artesãos e vão adquirindo mais conhecimento enquanto exercem suas atividades. Mesmo alguém que nunca leu Nietzsche ou Marx pode ter tido contato com seus conceitos filosóficos e sociais através de pessoas com quem conversou ou de filmes que assistiu. São diversas as possibilidades que temos de aprendizado mesmo fora da escola. 
que podemos buscar a partir daqui são maneiras de identificar e potencializar a bagagem de conhecimentos que os educandos já carregam consigo antes de entrarem numa sala de aula. Incentivando suas próprias reflexões de forma autônoma e propondo a articulação com novas informações e formas de conhecimento. Se podemos aprender através da simples observação da cidade, por exemplo, da relação com as pessoas ou com filmes, é interessante que tenhamos nossos sentidos aguçados para essas percepções. Desenvolver nossa capacidade crítica e analítica, enxergando em cada experiência a possibilidade de um novo aprendizado. 

  
2. AFETOS E SENSO DE COLETIVIDADE:
("construir um espaço democrático de convívio ético") 

Neste capítulo pretendo ressaltar também a importância dos processos individuais e coletivos no aprendizado e no bem estar do educando, assim como nas experiências sensoriais e dos processos empíricos no aprendizado buscando experiências que desenvolvam o senso de coletividade, ética, capacidade crítica e intuitiva.

“Lembra o tempo que você sentia, e sentir era a forma mais sábia de saber, e você nem sabia?”, Alice Ruiz. 

2.1 A experiência empírica

Acredito que a experiência empírica possa desenvolver nos estudantes um maior senso de coletividade. Ter contato direto com o objeto de estudo ajuda não só na absorção do conteúdo de forma mais completa, mas também na compreensão de um mundo em rede. Quando em contato com um conteúdo de forma teórica, o estudante tem uma compreensão isolada do mesmo, mas, quando o contato se dá de forma empírica, é possível ter noções que só são possíveis através desta relação.  
[adicionar exemplo]
Os conteúdos deixam, assim, de ser meramente teóricos e passam a ter um valor prático, permitindo que o estudante crie conexões e tenha, também, uma reflexão mais autônoma a respeito do conteúdo e da experiência prática.


3. EDUCAÇÃO E ECONOMIA:

Este capítulo tem a intenção de mostrar novos modelos que vêm sido sugeridos por economistas e educadores para a educação e para empresas. Tendo como foco meio de estímulo a produção sadia de conhecimento, mão de obra e produtos. Este capítulo visa também propor formas de se relacionar com a economia e com a educação que vão além da lógica do capital, que valorizem as experiências e as relações humanas nesses processos.

3.2 O que nos motiva?/Discursos motivacionais; 

Em uma pesquisa financiada pelo Federal Reserve Bank e aplicada pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) com os alunos da universidade foi proposto uma série de tarefas diversas como: memorizar sequências, palavras-cruzadas, acertar uma bola no aro e outros. Eram estabelecidos três níveis de recompensa em dinheiro que seguiam de acordo com o nível dos acertos nas tarefas. Como resultado, notou-se que recompensas em dinheiro funcionaram muito bem para tarefas estritamente mecânicas, porém, quando as tarefas exigem habilidades cognitivas ou ligadas a criatividade, mesmo as mais simples, esse tipo de recompensa não funciona da mesma forma.  
Essa experiência foi proposta posteriormente com algumas modificações em Madurai, na Índia. A diferença principal é que eram estabelecidos três níveis de recompensas para o mesmo trabalho e oferecidos a grupos diferentes e comparava-se os resultados dos três grupos. Os dois grupos com as recompensas mais baixas mostraram resultados próximos em seus testes e o grupo com a maior recompensa obteve os resultados mais baixos, nesse caso. 
Comumente se espera dentro das empresas que quanto mais alto o pagamento, melhor sejam os resultados obtidos, mas essas experiências nos mostram que essa lógica não se aplica a todos os casos. Este mesmo modelo de recompensa é aplicado também nas escolas, mas em forma de notas, servindo ainda mais para treinar os estudantes para realização de tarefas mecanizadas e decoradas, sem desenvolvimento real das capacidades intelectuais e cognitivas. Se tivermos, por exemplo, uma escola onde não seja cobrada uma avaliação com nota, mas outras formas de reconhecimento e incentivo coletivo, trazendo questões subjetivas e existenciais para o aprendizado, é possível, então, desenvolver uma outra forma de lidar com o conhecimento, mais profunda e menos mecânica. 
Algumas empresas como Atlassian e Google apostam na autonomia dos funcionários como dispositivo de motivação. A Google é uma empresa reconhecida mundialmente pelos serviços prestados que toma proporções gigantescas e é também conhecida pela liberdade que seus funcionários tem para criação, para montar seus cronogramas de trabalho e lazer. A Atlassian é uma empresa australiana de software empresarial que adotou uma prática de incentivo que se tornou popular entre outras empresas de software, inclusive pela, já citada, Google. Essa tradição foi nomeada pela empresa como "Shiplt Days": todo ano, num período de 24 horas, os funcionários da empresa que trabalham desenvolvendo softwares podem se dedicar a desenvolver projetos pessoais nos quais eles se identifiquem mais. Os funcionários podem trabalhar com o que quiserem, da forma que quiserem e com quem quiserem. Os trabalhos desenvolvidos são apresentados numa reunião de forma descontraída no final das 24 horas. Como resultado a empresa obteve a solução de diversos bugs e a criação de diversos, além de gerar um ambiente mais agradável para seus funcionários.¹ 


¹: O autor Daniel Pink dedicou em seu livro " Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us,", um capítulo falando sobre o "Shiplt Days" que na época se chamava "FedEx Days". 

"Motivação (do Latim moveres, mover) refere-se em psicologia, em etologia e em outras ciências humanas à condição do organismo que influencia a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação. Assim a principal questão da psicologia da motivação é "porquê o indivíduo se comporta da maneira como ele o faz?"1 . "O estudo da motivação comporta a busca de princípios (gerais) que nos auxiliem a compreender, por que seres humanos e animais em determinadas situações específicas escolhem, iniciam e mantém determinadas ações" (Wikipedia) 

O que nos motiva? Por que as pessoas se dedicam, por exemplo, a praticar esportes ou artes mesmo que essas não sejam suas áreas profissionais? São questionamentos abordados por Daniel Pink, escritor americano de livros sobre negócios, trabalho e gestão e que usaremos aqui para pensar maneiras de tornas as relações das pessoas com seus trabalhos uma relação produtiva e saudável socialmente.
Trabalhar em projetos que estimulem nossas capacidades nos faz felizes. As pessoas gostam de serem reconhecidas e de sentirem que são boas em algo, desenvolver suas habilidades físicas e mentais.  Faz com que nosso corpo e mente mantenham um funcionamento saudável.  É difícil na lógica capitalista imaginar que em algum lugar é possível obter mão de obra especializada/qualificada para construção de um projeto sem fins lucrativos, feito de forma voluntária e com distribuição gratuita. No entanto, temos exemplos hoje em dia; Wikipedia, Linux e outros softwares que são desenvolvidos de forma colaborativa por pessoas capacitadas e que disponibilizam o resultado de seus trabalhos gratuitamente.
Esse exemplo pode ser visto, não só na área de informática, mas, talvez até mais comumente, nas áreas artísticas, onde, inclusive, muitos artistas se sustentam a partir de empregos paralelos a suas práticas artísticas e fazem shows, exposições, gravações sem receber e usando seus trabalhos para sustentarem sua arte. Não é dinheiro, evidentemente, o que motiva estas pessoas a realizarem estas atividades, mas a necessidade de desenvolver suas habilidades, de se comunicar com as pessoas e de produzir conteúdos que expressem seus desejos e crenças. 
Quando o "lucro" está a frente do "propósito" podemos perceber: produtos com baixa durabilidade, serviços mal prestados. Este é um dos princípios claros do processo industrial-capitalista, gerar produtos que precisem ser constantemente renovados para que as indústrias e lojas continuem sempre a vender novas versões dos mesmos produtos. Produtos e serviços que se apresentam dentro dessa lógica, se comunicam com as tarefas realizadas de forma mecânica, como nas linhas de montagem divididas por setores das fábricas. Os funcionários não precisam ser criativos, apenas montar uma peça isolada de todo o processo de montagem. 
Mas, quando temos um propósito como dispositivo motivador, as pessoas se tornam mais criativas, se envolvem mais em todas as partes do processos, criam produtos realmente úteis, que facilitem a vida de outras pessoas, personalizados e que atendam as reais necessidades sociais e individuais. 


 "Outro conceito que influenciou o estudo da motivação foi a diferenciação entre motivação intrínseca e extrínseca. Enquanto a primeira refere-se à motivação gerada por necessidades e motivos da pessoa, a motivação extrínseca refere-se à motivação gerada por processos de reforço e punição (ver condicionamento operante). No entanto é falso dizer que a motivação extrínseca é fruto da ação do ambiente e a intrínseca da pessoa, porque, como se verá, a motivação é sempre fruto de uma interação entre a pessoa e o ambiente. Importante também é observar que os dois tipos de motivação podem aparecer mesclados, como, por exemplo, quando a pessoa estuda um tema que a interessa (motivação intrínseca) e consegue com isso uma boa nota (reforço: motivação extrínseca). Outro aspecto da relação entre motivação intrínseca e reforço é o chamado efeito de superjustificação ou de corrupção da motivação. Sob esse nome entende-se o fenômeno de que a motivação intrínseca do indivíduo em determinadas situações diminui, em que ele é recompensado pelo comportamento apresentado. Em um experimento clássico, Lepper e seus colaboradores (1973) dividiram um grupo de crianças em três grupos menores: cada um dos grupos recebeu a tarefa de desenhar com canetas coloridas; o primeiro grupo foi informado de que ganhariam um brinde de reconhecimento pelo trabalho, o segundo recebeu um brinde surpresa, sem ter sido informado e o terceiro não recebeu nada. Os autores observaram que todas as crianças desenharam com as canetas - atividade apreciada pelas crianças - mas as crianças a quem havia sido prometido um brinde desenharam muito menos e com menos entusiasmo do que as outras, o que os levou à conclusão de que a promessa de uma recompensa pelo trabalho diminuiu a motivação intrínseca das crianças em fazer algo que elas gostam." (Wikipedia, artigo: motivação) 

3.3 Responsabilidade com o mundo e empregos úteis; 

<A escola tem assumido como sua função preparar os estudantes para o "mercado de trabalho", mas um mercado que não tem responsabilidade com o bem estar pessoal ou com meio ambiente. O ambiente de trabalho muitas vezes nos impossibilita de pensar em questões que estejam fora da lógica da produção mais econômica ou mais rápida, o que nos afasta, também, de questões como desigualdade social e meio ambiente, que são questões de total importância para a sociedade. Paulo Freire  fala em seu livro "Pedagogia da autonomia" que  "a capacitação de homens e mulheres em torno de saberes instrumentais jamais pode prescindir a sua formação ética". É importante lembrar que valores éticos e morais se transformam ao longo do tempo, daí também a importância do debate livre, para que  essas noções sejam sempre construídas coletivamente e sempre se renovem e é desta forma que acredito que deveríamos lidar também com os nossos trabalhos, buscando exerce-los da maneira mais ética possível, pensando no bem estar, não só individual, mas coletivo.>